Pago o voto do MAIOR GLÓRIA A DEUS da minha
vida, voltei-me para a nova realidade: eu e outros 417 candidatos embrenharíamos
novamente à luta pelas 80 vagas do Curso de Psicologia da UFPR. A briga seria
boa.
Não posso me olvidar neste testemunho de um
fato que a princípio seria apenas uma conversa informal; todavia hoje reconheço
que foi uma providencial ação divina e uma demonstração de amor fraternal –
muito incomum nos dias de hoje no seio da comunidade cristã. O evangelista
Esequiel Português, companheiro de trabalho eclesiástico, certa manhã me
surpreendeu com a seguinte indagação: “São quantas vagas oferecidas pelo Curso
Psicologia”? Ao que eu prontamente respondi: “Oitenta vagas”. Ele me corrigiu:
“Não, irmão Neir, não são oitenta vagas; são apenas setenta e nove”. Entendi
que precisava fundamentar a minha resposta em dados sólidos. “Irmão Esequiel” –
contra-argumentei – “segundo os dados apresentados pela Comissão de Vestibular
da UFPR, o Curso de Psicologia oferece exatamente oitenta vagas...”. Mantendo
uma serenidade, até então desconhecida por mim, o evangelista Esequiel foi mais
enfático ao afirmar categoricamente: “Neir, eu já lhe disse: são apenas setenta
e nove vagas...”. Não me contive e o indaguei: “Como assim”...
- “São setenta e nove vagas a serem
disputadas pelos outros 417 candidatos. Uma delas é sua!”.
A ficha caiu, finalmente...
Acredito que foi o combustível necessário
para impulsionar-me rumo à grande batalha da segunda fase do processo seletivo.
Um outro fator altamente estimulante foi o
fato de que a redação faria parte nesta nova etapa do vestibular. Modéstia à
parte, eu me sinto muito à vontade em escrever, inclusive pelo fato de ser um
assaz leitor. A propósito, meus três hobbyes culturais são: ler (de tudo),
ouvir (uma boa música) e assistir filmes (especialmente DVD em casa); nesta
ordem, preferencialmente.
Bom, não precisa dizer que continuei orando
muito e estudando bastante.
Chegou o dia “d” e a hora “h”... Ao
contrário da primeira fase, este domingo estava chuvoso. Como bom “filho de
mineiro”, saí de casa com tempo de sobra para chegar à Escola Hildebrando de
Araújo e me acotovelar junto aos vestibulandos sob o toldo da entrada e esperar
o momento da largada. Quando finalmente a porta se abriu, vi-me no “grid” de um
Grande Prêmio saindo para a volta de apresentação. Devidamente assentado junto
à carteira que continha a minha identificação, eu dei uma olhadela nos meus
concorrentes, respirei fundo, e como um bom cristão eu fiz minha segunda e
última petição: “Senhor, tu sabes que fiz o meu melhor dentro das minhas
possibilidades. Peço-te que sê comigo e me ajude neste momento”.
14 horas. Giro alto do motor. Luzes se
apagaram e disparei para o meu destino. Começava ali minha última batalha pelo
tão almejado sonho. Cada volta do ponteiro do minuto representava uma volta no
meu “circuito” existencial. Eu tinha quatro horas para terminar a prova. Quando
deu 18 horas e a orientadora deu a “bandeirada final”, ainda restavam eu e mais
três “pilotos” a cruzarem a linha de chegada. Quando tirei o “capacete” da
concentração, parece que saía fumaça pelos poros do crânio.
Hora de relaxar... Hora então de comer...
chocolate...
Santo cacau...
Janeiro de 2005. Férias. Viagem à minha
cidade natal: Paranavaí.
Férias é momento de se “desplugar” de tudo
que é convencional, corriqueiro, rotineiro...
De repente o celular toca. Verifico a
origem: Irmão Marco Aurélio – um amigo e ovelha minha dos tempos em que fora
pastor em umas das igrejas em Curitiba.
- Alô. Irmão Neir?
- Sim. Pois não.
- Tudo bem com o irmão?
- Graças a Deus.
- Tudo bem, MESMO?
Gelei. O primeiro “tudo bem” me parece
muito familiar; uma demonstração de carinho. Mas o segundo, e com aquela
entonação me perturbou seriamente. Fiz um rápido exame pessoal e chequei se os
meus “fusíveis” estavam todos conectados...
- Irmão Marco, até onde sei, está tudo
bem...
- Irmão Neir, onde o irmão está?
- Estou na casa de uma amiga minha.
- Acontece que... (quase que eu o
interrompi para que ele falasse logo a razão daquela ligação) ...estou
visitando a página da UFPR e verificando os aprovados na segunda fase... (vai,
diga logo – quase esbravejei) ...e o nome do irmão... (acho que quase infartei)
...consta dos APROVADOS...
Congelei... as pulsações, o sangue, a
mente. Novamente aquelas idéias:
- Não, não é possível... Eu... Aprovado...
Claro que é possível; afinal não foi para
isso que orei e estudei.
Incrível, antes que o meu amigo dissesse
mais uma palavra eu o interrompi:
- Irmão Marco, com a sua licença...
Afastei o celular, enchi os pulmões, o
diafragma e tudo quanto é ventrículo, levantei os braços, e (pensa em alguém
gritando muito...). É, foi isso. Berrei:
- GLÓRIAAAA A DEEEEEEEEEEUS!!!!!!!!!!
Acabava de dar o meu segundo maior glória a
Deus da minha vida.
Obviamente tive que explicar ao irmão Marco
o motivo de tal façanha, afinal ele teria razão em duvidar da minha sobriedade.
O que aconteceu depois não vem ao caso
aqui, mas quero ficar com a lembrança da festa, dos gritos, das lágrimas, dos
ovos, da farinha, da lama, da perda da cabeleira e especialmente da infância
revivida com muita vivacidade e intensidade.
Quero finalizar reportando-me à questão
proposta no prefácio da primeira parte: o que tem a ver aquela piadinha
familiar com o tema deste testemunho?
Eu diria, tudo. Afinal, segunda-feira
próxima, dia 30 de julho eu retorno às aulas; o sexto período de dez. Em outras
palavras, começo a caminhada rumo à conclusão do curso; ou seja, estou mais
perto da formatura do que do vestibular. Isto me emociona e me impulsiona.
Nestas férias, não me esqueci de passar nos
boxes e abastecer-me e calibrar-me para as próximas etapas que me aguardam.
Prometo que quando concluir o bom combate,
acabar esta carreira e preservar acima de tudo a fé, vou dividir a glória do
pódio com a minha família e com todos os amigos que me
acompanharam neste rally da esperança e perseverança.
Como um autêntico brasileiro e fiel
cristão: EU NÃO DESISTO NUNCA...
NEIR MOREIRA
Pastor & Psicólogo
NEIR MOREIRA
Pastor & Psicólogo