quarta-feira, 24 de junho de 2020

O MAIOR "GLÓRIA A DEUS" - Parte 2



Pago o voto do MAIOR GLÓRIA A DEUS da minha vida, voltei-me para a nova realidade: eu e outros 417 candidatos embrenharíamos novamente à luta pelas 80 vagas do Curso de Psicologia da UFPR. A briga seria boa.
Não posso me olvidar neste testemunho de um fato que a princípio seria apenas uma conversa informal; todavia hoje reconheço que foi uma providencial ação divina e uma demonstração de amor fraternal – muito incomum nos dias de hoje no seio da comunidade cristã. O evangelista Esequiel Português, companheiro de trabalho eclesiástico, certa manhã me surpreendeu com a seguinte indagação: “São quantas vagas oferecidas pelo Curso Psicologia”? Ao que eu prontamente respondi: “Oitenta vagas”. Ele me corrigiu: “Não, irmão Neir, não são oitenta vagas; são apenas setenta e nove”. Entendi que precisava fundamentar a minha resposta em dados sólidos. “Irmão Esequiel” – contra-argumentei – “segundo os dados apresentados pela Comissão de Vestibular da UFPR, o Curso de Psicologia oferece exatamente oitenta vagas...”. Mantendo uma serenidade, até então desconhecida por mim, o evangelista Esequiel foi mais enfático ao afirmar categoricamente: “Neir, eu já lhe disse: são apenas setenta e nove vagas...”. Não me contive e o indaguei: “Como assim”...

- “São setenta e nove vagas a serem disputadas pelos outros 417 candidatos. Uma delas é sua!”.

A ficha caiu, finalmente...

Acredito que foi o combustível necessário para impulsionar-me rumo à grande batalha da segunda fase do processo seletivo.
Um outro fator altamente estimulante foi o fato de que a redação faria parte nesta nova etapa do vestibular. Modéstia à parte, eu me sinto muito à vontade em escrever, inclusive pelo fato de ser um assaz leitor. A propósito, meus três hobbyes culturais são: ler (de tudo), ouvir (uma boa música) e assistir filmes (especialmente DVD em casa); nesta ordem, preferencialmente.
Bom, não precisa dizer que continuei orando muito e estudando bastante.

Chegou o dia “d” e a hora “h”... Ao contrário da primeira fase, este domingo estava chuvoso. Como bom “filho de mineiro”, saí de casa com tempo de sobra para chegar à Escola Hildebrando de Araújo e me acotovelar junto aos vestibulandos sob o toldo da entrada e esperar o momento da largada. Quando finalmente a porta se abriu, vi-me no “grid” de um Grande Prêmio saindo para a volta de apresentação. Devidamente assentado junto à carteira que continha a minha identificação, eu dei uma olhadela nos meus concorrentes, respirei fundo, e como um bom cristão eu fiz minha segunda e última petição: “Senhor, tu sabes que fiz o meu melhor dentro das minhas possibilidades. Peço-te que sê comigo e me ajude neste momento”.
14 horas. Giro alto do motor. Luzes se apagaram e disparei para o meu destino. Começava ali minha última batalha pelo tão almejado sonho. Cada volta do ponteiro do minuto representava uma volta no meu “circuito” existencial. Eu tinha quatro horas para terminar a prova. Quando deu 18 horas e a orientadora deu a “bandeirada final”, ainda restavam eu e mais três “pilotos” a cruzarem a linha de chegada. Quando tirei o “capacete” da concentração, parece que saía fumaça pelos poros do crânio.
Hora de relaxar... Hora então de comer... chocolate...
Santo cacau...

Janeiro de 2005. Férias. Viagem à minha cidade natal: Paranavaí.
Férias é momento de se “desplugar” de tudo que é convencional, corriqueiro, rotineiro...
De repente o celular toca. Verifico a origem: Irmão Marco Aurélio – um amigo e ovelha minha dos tempos em que fora pastor em umas das igrejas em Curitiba.
- Alô. Irmão Neir?
- Sim. Pois não.
- Tudo bem com o irmão?
- Graças a Deus.
- Tudo bem, MESMO?
Gelei. O primeiro “tudo bem” me parece muito familiar; uma demonstração de carinho. Mas o segundo, e com aquela entonação me perturbou seriamente. Fiz um rápido exame pessoal e chequei se os meus “fusíveis” estavam todos conectados...
- Irmão Marco, até onde sei, está tudo bem...
- Irmão Neir, onde o irmão está?
- Estou na casa de uma amiga minha.
- Acontece que... (quase que eu o interrompi para que ele falasse logo a razão daquela ligação) ...estou visitando a página da UFPR e verificando os aprovados na segunda fase... (vai, diga logo – quase esbravejei) ...e o nome do irmão... (acho que quase infartei) ...consta dos APROVADOS...
Congelei... as pulsações, o sangue, a mente. Novamente aquelas idéias:
- Não, não é possível... Eu... Aprovado...
Claro que é possível; afinal não foi para isso que orei e estudei.
Incrível, antes que o meu amigo dissesse mais uma palavra eu o interrompi:
- Irmão Marco, com a sua licença...
Afastei o celular, enchi os pulmões, o diafragma e tudo quanto é ventrículo, levantei os braços, e (pensa em alguém gritando muito...). É, foi isso. Berrei:

- GLÓRIAAAA A DEEEEEEEEEEUS!!!!!!!!!!

Acabava de dar o meu segundo maior glória a Deus da minha vida.

Obviamente tive que explicar ao irmão Marco o motivo de tal façanha, afinal ele teria razão em duvidar da minha sobriedade.
O que aconteceu depois não vem ao caso aqui, mas quero ficar com a lembrança da festa, dos gritos, das lágrimas, dos ovos, da farinha, da lama, da perda da cabeleira e especialmente da infância revivida com muita vivacidade e intensidade.

Quero finalizar reportando-me à questão proposta no prefácio da primeira parte: o que tem a ver aquela piadinha familiar com o tema deste testemunho?
Eu diria, tudo. Afinal, segunda-feira próxima, dia 30 de julho eu retorno às aulas; o sexto período de dez. Em outras palavras, começo a caminhada rumo à conclusão do curso; ou seja, estou mais perto da formatura do que do vestibular. Isto me emociona e me impulsiona.

Nestas férias, não me esqueci de passar nos boxes e abastecer-me e calibrar-me para as próximas etapas que me aguardam.

Prometo que quando concluir o bom combate, acabar esta carreira e preservar acima de tudo a fé, vou dividir a glória do pódio com a minha família e com todos os amigos que me acompanharam neste rally da esperança e perseverança.

Como um autêntico brasileiro e fiel cristão: EU NÃO DESISTO NUNCA...



NEIR MOREIRA
Pastor & Psicólogo


quinta-feira, 18 de junho de 2020

O MAIOR “GLÓRIA A DEUS”



PARTE UM

Há um “causo” familiar que eu gosto muito. Ele propõe a seguinte questão: “Até onde o caçador entra na mata?”. Apesar de ser uma pergunta ingênua, na maioria das vezes, pouca gente se arrisca a resposta e quase ninguém acerta. “Até o meio da mata, é claro; depois ele está saindo...” – está é a resposta. Eu não disse que era simples.

Pois bem, você deve estar-se perguntando, o que tem a ver esta piadinha familiar com o tema deste testemunho? Ao final do mesmo, você, por si mesmo saberá...
Dezembro de 1996. Culto de ação de graças. Assembléia de Deus em São José dos Pinhais. Era para ser a Formatura da Turma de 93 do Curso de Bacharel em Teologia; todavia, como só restou um “mancebo” dos 28 que iniciaram o referido curso, um culto de gratidão faria mais sentido, obviamente.
Apesar da primeira graduação, o sonho do Curso de Psicologia não morreu, parece que apenas adormeceu durante oito anos, com alguns relampejos.
Janeiro de 2004. Depois de refletir friamente das reais possibilidades de ingressar novamente em uma sala de aula numa segunda graduação, busquei a Deus e decidi: vou à luta!
Acredite: 2004 parece que foi o ano em que mais orei em minha vida, se não estou enganado. Sabedor das inevitáveis dificuldades que enfrentaria não restava mais do que duas alternativas: orar muito e estudar bastante.
Merece destaque o fato de que naquele ano o escore do curso de Psicologia na Universidade Federal do Paraná, estava 16 por um. Gosto de ilustrar este fato, lembrando de uma brincadeira infantil: imagine dezesseis indivíduos rodeando uma cadeira que só pode ocupada por um. Roda, roda, roda... já! Mentalize os dezesseis “voando” para a cadeira... Possivelmente um conseguirá sentar por primeiro, e outros se apinharão sobre ele; a grande maioria vai sobrar. Esta era a minha realidade. A bem da verdade, o total de candidatos para o curso de psicologia na UFPR, naquele ano foi de 1336 candidatos, para 80 vagas.
Osso duro de roer! Mas não impossível...
Hoje sei que a estratégia e planejamento são fundamentais em qualquer empreitada séria. Inicialmente dediquei os primeiros seis meses a ler as dez indicações literárias. Quando chegou o segundo semestre foquei as oito disciplinas do vestibular. Reconhecendo que não reunia tempo e condição para relembrar o conteúdo de todas as matérias, elegi quatro (História, Geografia, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira – Inglês) para um estudo mais específico. Varri tudo o que dizia respeito a estas disciplinas, bem como respondi às questões dos últimos treze anos do vestibular da Federal.
Sozinho não era o melhor caminho para um desafio de tamanha grandeza. Matriculei-me em um cursinho de final de semana, para me apropriar dos “macetes”. A propósito, um macete me foi muito útil. Na semana da primeira fase do vestibular, tive aulas no período noturno. Naquela quarta-feira, eu não poderia estar na aula, pois na igreja a qual eu pastoreava na época (Uberaba de Cima) haveria um culto que contaria com a participação de alguns amigos meus. Deselegantemente, eu faltei ao culto, e para assistir à aula de química (uma das disciplinas não eleitas por mim). Aqui aprendo uma grande lição. Das situações mais inusitadas ou daquilo que não apreciamos muito, temos sempre algo a aprender. Nunca mais vou esquecer isso.
Não me pergunte o conteúdo daquela aula, pois só lembro-me de um macete que o professor de química nos ensinou sobre a participação em concursos públicos ou vestibulares. Pra mim, ele foi fundamental. [Se você implorar eu conto...].

Então, o dia do vestibular chegou. Acordei naquele domingo confiante: em Deus e em mim, é claro. Ao chegar à PUC, procurei a minha sala e aguardei. Enquanto os responsáveis davam os últimos recados de interesse dos candidatos, resolvi me apropriar de um direito na condição de servo de Deus. Ou seria apelação? – alguém me alfinetaria. Seja como for, alguma coisa tinha que ser feita. Fiz. Orei assim: “Senhor, meu Deus, tu sabes que fiz o meu possível, tanto no aspecto espiritual quanto intelectual, e farei o meu melhor nesta prova. Se eu for aprovado nesta primeira fase, eu me comprometo a dar o MAIOR GLÓRIA A DEUS da minha vida”. Parece coisa de criança. Talvez seja. Mas uma coisa eu garanto: Deus entende. E é isto o que importa.
Fui informado que teria cinco horas para a realização da prova. Levei exatas cinco horas. Saí da sala de aula torto pelas oitenta questões.

Semanas depois, numa terça-feira ensolarada, a tão sonhada lista de aprovados apresentaria os 418 combatentes que passariam para a segunda fase do processo seletivo e continuariam na luta pelas 80 cadeiras. A roda continua...
14h. Entrei no site e nada...
Nada de conseguir uma linha; obviamente ela estava congestionada – tipo Marginal Tietê no final de expediente de uma sexta-feira chuvosa em São Paulo. Tentei, cliquei, digitei, esperei... Lá pelas 14h20 consegui entrar. Dada a minha natural ansiedade e expectativa, quando abri a página dos aprovados no curso de psicologia não encontrei o meu nome – ao descer a barra de rolagem, parei na letra “p” e fiquei olhando... De repente lembrei que o meu nome começa com “n”. Subi a página... “N...”, “na...”, “ne...”... “neir...”. Tava lá:

NEIR MOREIRA DA SILVA.

Não pode... não é possível... Como não é possível? Incrível, é isso que acontece. Aquilo que você mais deseja, quando finalmente recebe, pensa que é impossível. Estranho, não? Estranho, mas normal.
Incrível foi a experiência que Deus me possibilitou naquela tarde. Lembra do meu voto antes da feitura da prova? Pois bem, eu me esqueci por um segundo. Pois no segundo seguinte, Ele, o Deus que não falha e que nos ama, fez algo que jamais esquecerei: da mesma forma que estou ouvindo agora uma canção toca no meu micro bem como as teclas sendo digitadas, ouvi uma voz firme e meiga:

- Meu filho, e o meu glória?!...

Confesso que estremeci por dentro por duas razões básicas: a primeira, por ouvir claramente a voz de Deus, falando comigo como faz um amigo (quem já passou por esta experiência, pode atestar tal fato); e, segunda, o fato de Deus lembrar-me de algo que, a princípio, era obrigação minha, ou seja, não esquecer da obrigatoriedade do pagamento do voto (hoje lembro que Deus não divide a sua glória com ninguém).
Providencialmente, estava sozinho na sala do meu trabalho. Fui até a porta que dá para o corredor. Certifiquei-me se não seria visto por alguém – afinal o meu voto não tinha a cláusula que me obrigava a cumpri-lo na presença de pessoas. Eu devia, é claro, pagá-lo. Ouvi um burburinho no andar de baixo. Mas não me restava outra opção... Reuni coragem suficiente, enchi o pulmão, o diafragma, e tudo o que necessário e... (como diz os meus amigos nordestinos: “pense num grito, berro, algo do tipo”...).

GLÓRIA A DEUS!!!

Bem a primeira batalha estava vencida e paga. Afinal dei o melhor, maior e mais alto “glória a Deus” da minha vida.
Mas o pior estava por vir...


NEIR MOREIRA
Pastor & Psicólogo